Call for Papers: Ensinar e aprender na "era dos ecrãs": re-imaginar a educação

2023-12-18

Ultrapassadas as principais limitações da pandemia de COVID 19, muitos pensaram nunca mais ser possível, na sociedade e na escola, regressar ao ponto de partida, tais foram as oportunidades entreabertas por esse desconcerto sociocultural tão inquietante (Reimers & Schleicher, 2020; Enguita, 2020). No campo escolar, após o acesso forçado de professores, alunos e famílias ao “ensino a distância” e ao e-learning e tendo em conta o crescente e generalizado uso de dispositivos eletrónicos móveis por parte das crianças, muitos sonharam com uma oportunidade única de enriquecimento da educação, tornando-a um bem acessível a todos e promotor da realização humana de cada um (Alves & Cabral, 2020).

Doravante, ensinar e aprender, catapultando as potencialidades das múltiplas combinações entre as modalidades presencial e a distância, favoreceria novos modos de gestão curricular e de organização dos alunos, dos professores e das disciplinas, em combinações muito mais flexíveis e personalizadas, e permitiria combinar diferentes espaços e tempo de ensino e de aprendizagem, tendo em vista melhorar a educação.

Todavia, o que é que efetivamente sucedeu? Como é que os benefícios e as aprendizagens realizadas foram aproveitados, por quem e com que finalidades? Quem está efetivamente a tirar partido desta evolução e das novas oportunidades que se abriram? A individualização da educação, articulada com o e-learning e aliada ao “ensino doméstico”, em configurações que estão a conquistar terreno, favorece ou compromete dois dos pilares das nossas sociedades e da educação, “aprender a ser” e “aprender a viver juntos”? O projeto de um serviço público de educação democrático e justo esmorece ou renasce?

Por outro lado, não podemos ignorar que as crianças e os jovens são cada vez mais dependentes dos ecrãs lúdicos, numa quantidade de tempo e numa qualidade de “aprendizagem” humana que lança múltiplos reptos ao desenvolvimento humano e à educação escolar, a braços com uma nova crise de legitimidade e de confiança. Crianças sem atenção e sem paciência para o tempo longo e lento, sem hábitos de silêncio e industriadas no “pensamento maquinal”, para recorrer aos termos de Han (2022:87), até quando suportarão a escola de massas e democrática que nos formou? Com que diferenciações entre os diversos níveis culturais e socioeconómicos? Ouvimos a voz das crianças e dos jovens? Como é que as diferentes escolas têm lidado em termos educativos com o novo mundo do uso generalizado e aditivo dos dispositivos eletrónicos, tanto em termos curriculares como nos modelos organizacionais?

Ao ouvirmos estes grandes motores de inovação e de mudança da educação a roncar no exterior das escolas pela ordem digital, imaginamos que provavelmente nada ficará como dantes. Mas urge perguntar: o que comanda hoje a ação política educacional e a razão pedagógica? Como é que partidos políticos, organizações profissionais, professores, alunos e pais, autarquias e outras organizações sociais estão a re-agir?

Este número da RPIE contém, assim, inúmeros desafios tanto à reflexão crítica quanto à pesquisa empírica.

Submissões

Data limite: 31 de agosto 2024

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